Os filmes de Woody Allen são sobre Woody Allen.
O protagonista de Allen às vezes é um professor de faculdade ou escritor, mas sempre um intelectual, um homem idoso neurótico vestindo blusas e calças cáqui. Nos primeiros filmes de Allen, o próprio protagonista é interpretado pelo próprio Allen ( Noivo Neurótico, Noiva Nervosa , Manhattan , Memórias), mas esses filmes são mais frequentemente feitos por atores que estão sempre lá por ele — Owen Wilson em Meia-Noite em Paris, Jason Biggs em Igual a Tudo na Vida, Larry David em Tudo Pode Dar Certo. O protagonista de Allen é, sem falhas, e está sempre acompanhado por uma protagonista jovem e bela.
Essas mulheres são sempre jovens — em Manhattan, um filme lançado em 1979, o objeto da luxúria do personagem de Allen é uma adolescente. Esta semana, Page Six informou que A Rainy Day , um filme que Allen está atualmente terminando, apresenta outra brincadeira sobre uma relação sexual entre uma jovem de 15 anos e um homem de 40 anos. Quando fui procurar a maior diferença de idade entre os pares românticos de Allen no cinema (que é Juliette Lewis e Allen em Maridos e esposas com uma diferença de 38 anos, lançado no ano em que Lewis tinha 19 anos), notei que Evan Rachel Wood e Larry David ( par romântico em Tudo Pode Dar Certo ) na verdade, nasceram nos mesmos anos que eu e meu pai, respectivamente.
Allen é um prolífico cineasta — ele dirigiu um filme por ano desde 1982 — e seus filmes muitas vezes retornam a temas que refletem a imagem de Allen de si mesmo. Uma delas é a extraordinária teoria do homem, popularizada no romance russo de 1866, Crime e Castigo de Fiódor Dostoiévski. A pergunta de Dostoiévski é: um homem pode cometer um crime brutal e viver com a culpa? Raskolnikov, o protagonista, acredita que alguns homens são extraordinários, superiores à maioria dos outros e, portanto, estão imbuídos do direito de cometer crimes contra a normalidade, não importa o quão horrível seja. Você também pode ter ouvido falar desse homem extraordinário como Übermensch (em Assim Falou Zaratustra) de Nietzsche — o “ além-homem” — uma figura que os nazistas também gostam.
Raskolnikov assassinou duas mulheres para testar sua teoria apenas para perceber que ele não é o Übermensch — ele recai em sonhos febris, assombrado por fantasmas das mulheres e, finalmente, confessa os assassinatos.
No filme de Allen, Ponto Final — Match Point , o protagonista, que mata sua namorada e seu vizinho, é realmente mostrado lendo Crime e Castigo. Outro filme, Crimes e pecados, é uma alusão bastante óbvia. A teoria também é explorada nos filmes O Sonho de Cassandra e O Homem Irracional. Mas ao contrário de Raskolnikov, os personagens de Allen podem viver com o que eles fizeram. Um homem pode cometer um crime brutal e viver com a culpa? Uma e outra vez, os personagens de Allen respondem “sim”.
E ao contrário de Raskonikov, que finalmente sucumbe à culpa de seus crimes, ou os assassinos a sangue frio, que simplesmente continuam com suas vidas, apesar de seus crimes, Allen gosta de nos mostrar seus pecados. Seus filmes desfilam suas perversidades diante de uma audiência internacional há décadas.
As alegações de que Allen agrediu sexualmente sua filha, Dylan Farrow, foram relatadas pela primeira vez em 1992, quando ela tinha 7 anos de idade. Em 2014, ela ainda pedia para acreditarem nela enquanto seu pai era nomeado para o seu 24º Oscar. Dylan Farrow e seu irmão, Ronan Farrow (o jornalista que escreveu a valente cobertura do New Yorker de Harvey Weinstein ) escreveram sobre o relacionamento impróprio de seu pai com sua irmã, Soon-Yi Previn, que Allen conheceu aos 44 anos quando começou a namorar a mãe dos três, Mia Farrow. Allen começou a ter relações sexuais secretamente por um ano com Previn quando ela tinha aproximadamente 19 anos e os dois se casaram em 1997. Apenas neste mês, o New York Times publicou dois *op-eds explicitamente chamando Allen de um abusador sexual. E se você acha que é apenas uma caça às bruxas da mídia de esquerda, quando eu estava crescendo no estado vermelho do Kansas, eu não conhecia nenhum estudante da sexta série que não sabia que Allen tinha se casado com sua filha — e não com sua verdadeira filha, todos gostam de protestar. Não sua filha biológica, apenas a irmã de seus filhos biológicos que ele conhecia desde os nove anos de idade.
Os filmes de Allen são reverenciados em Hollywood e em todo o mundo. Ele foi premiado com a Palma de Ouro Honorário e com o Directors Guild of America Lifetime Achievement Award. Mas os filmes que ele é reverenciado revelam a sinfonia pedofílica da sua autoridade criativa. Piadas sobre abuso sexual infantil, incesto e agressão sexual fazem sua filmografia , como esse texto, escrito por Allen, entregue por Allen, em um filme dirigido por Allen, Manhattan :
Mas ela tem 17 anos. Tenho 42 anos e ela 17 anos. Sou mais velho que o pai dela. Você acredita nisso? Estou namorando uma garota em que eu posso bater no pai dela. Essa é a primeira vez que esse fenômeno já ocorreu em minha vida.
Woody Allen se gaba de seus crimes porque ele pensa que ele se safou deles — e ele conseguiu, durante décadas. Ele confessou e ele foi recompensado com elogios. Ele já nos disse que pode viver com a culpa do que ele fez.
Allen disse, que depois do que aconteceu com Harvey Weinstein, era para ter cuidado para que isso não se transforme em uma caça às bruxas (Weinstein ajudou a manter a carreira de Allen viva no início dos anos 90 quando ele estava enfrentando alegações públicas de agressão sexual contra Farrow e a precipitação de seu casamento com Previn). Ele disse o mesmo quando respondeu a Dylan Farrow em 2014: “Ninguém quer desencorajar as vítimas de abuso a falarem, mas é preciso ter em mente que às vezes há pessoas que são falsamente acusadas e isso também é uma coisa terrivelmente destrutiva”.
Allen, agora com 81, está perigosamente perto de fazer isso sem consequências. Na semana passada, Lindy West escreveu para homens predadores : “As bruxas estão chegando, mas não para sua vida. Nós estamos vindo para o seu legado”. Tendo passado os últimos 40 anos de sua vida a fazer filmes sobre o abuso que cometeu em sua vida pessoal, a carreira de Allen é uma métrica surreal até onde Hollywood vai para proteger seus autores queridinhos masculinos. Allen tem medo de uma caçada às bruxas que vem para ele, mas ele colocou migalhas de pão para nós por todo o caminho.
* Op-ed. Op-ed é um americanismo, abreviatura de opposite editorial page (“oposto à página editorial”), que designa a página de um jornal na qual são expressas opiniões de colunistas ou comentaristas.
Leia a carta em que Dylan Farrow acusa Woody Allen de agressão sexual
Texto escrito por Dahlia Grossman-Heinze, traduzido por Yatahaze. A tradução poderá conter alguns erros por se tratar de tradução amadora.
